As dificuldades Enfrentadas por crianças com Altas Habilidades: Desafios Cognitivos, sociais e emocionais.
- Daniela Cracel
- 13 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
As Dificuldades Enfrentadas por Crianças com Altas Habilidades: Desafios Cognitivos, Sociais e Emocionais
Por Daniela Cracel

Introdução
Crianças com altas habilidades, também chamadas de superdotadas ou talentosas, são aquelas que demonstram, desde cedo, um potencial elevado para aprender, criar e resolver problemas de maneira excepcional. Embora sua inteligência superior possa ser um trunfo no desenvolvimento acadêmico, essas crianças enfrentam uma série de desafios emocionais, sociais e psicológicos que podem impactar negativamente sua qualidade de vida. A complexidade do desenvolvimento dessas crianças vai além da simples brilhante capacidade intelectual, envolvendo questões como estigmatização, bullying, e dificuldades em se adaptar aos padrões educacionais e sociais convencionais. Este artigo explora as dificuldades enfrentadas por essas crianças, as características que as definem, a forma como são vistas pela sociedade e como suas famílias podem apoiar seu desenvolvimento de maneira eficaz.
Características das Crianças com Altas Habilidades
De acordo com a teoria das múltiplas inteligências de Howard Gardner (1983), as crianças superdotadas não se destacam apenas por sua habilidade cognitiva, mas também por uma gama variada de competências que podem incluir habilidades musicais, linguísticas, lógico-matemáticas, espaciais, interpessoais e intrapessoais. Essas crianças apresentam, frequentemente, uma capacidade excepcional de compreender conceitos complexos, um vocabulário avançado para sua idade e uma curiosidade insaciável. Elas tendem a buscar desafios cognitivos constantes e demonstram uma criatividade notável em suas abordagens para resolver problemas.
Porém, o desenvolvimento dessas habilidades, embora positivo, não ocorre de maneira linear ou sem dificuldades. Crianças superdotadas podem se sentir desconectadas de seus colegas por não encontrarem, em seus pares, uma correspondência para suas habilidades intelectuais, o que pode resultar em solidão e, em alguns casos, em distúrbios emocionais.
Estigmatização e Bullying
Infelizmente, as crianças superdotadas frequentemente se tornam alvo de estigmatização e bullying. A sociedade, em geral, tem dificuldade em compreender que altas habilidades cognitivas podem coexistir com desafios emocionais e sociais. Muitas vezes, elas são rotuladas como "nerds" ou "esquisitas", o que pode levar ao isolamento social. A ideia preconcebida de que, por serem inteligentes, essas crianças devem ser sempre bem-sucedidas e emocionalmente estáveis pode criar uma pressão adicional. O bullying que sofrem pode não ser apenas físico, mas também psicológico, por meio de exclusão social ou zombarias.
Segundo Joseph Renzulli (2005), o modelo de "Três Anéis" explica que as crianças com altas habilidades não só apresentam uma inteligência superior, mas também uma elevada motivação e criatividade, o que as torna, muitas vezes, mais sensíveis e suscetíveis a críticas. Como resultado, elas podem desenvolver uma autoestima fragilizada, o que agrava as dificuldades sociais e emocionais.
Além disso, a falta de compreensão sobre as necessidades das crianças superdotadas por parte de educadores, colegas e até mesmo pais pode intensificar o sentimento de inadequação. "Essas crianças, apesar de sua inteligência, muitas vezes se sentem como se não se encaixassem em nenhum lugar", afirma Miraca U. M. Gross (2004), especialista em superdotação.
A Dificuldade de Enfrentar Esses Desafios
Uma das grandes ironias da superdotação é que, apesar de sua alta inteligência, essas crianças frequentemente não têm as ferramentas necessárias para lidar com os desafios emocionais e sociais que surgem em sua vida. O isolamento social, a dificuldade em encontrar colegas com interesses semelhantes e a pressão para manter um desempenho excepcional são fatores que podem gerar ansiedade, depressão e até transtornos de comportamento.
As teorias de desenvolvimento de talento, como a de Francoys Gagné (2004), sugerem que é essencial que as crianças com altas habilidades recebam apoio educacional adequado para o desenvolvimento pleno de seus talentos. Contudo, a falta de recursos e de um ambiente educativo que compreenda as necessidades dessas crianças pode resultar em frustração e desmotivação.
Como a Família Pode Ajudar
A família desempenha um papel fundamental no apoio ao desenvolvimento de crianças com altas habilidades. O apoio emocional é crucial para ajudá-las a lidar com o estigma e com as dificuldades sociais que enfrentam. De acordo com Carol Dweck (2006), a mentalidade de crescimento é um conceito que pode ser fundamental para essas crianças, pois elas precisam ser encorajadas a ver os desafios como oportunidades de aprendizado, e não como falhas pessoais. É vital que os pais ajudem seus filhos a desenvolver resiliência, reforçando a ideia de que o erro faz parte do processo de crescimento.
Além disso, os pais devem ser proativos ao procurar ambientes educacionais que compreendam e valorizem as habilidades de seus filhos, seja por meio de programas de enriquecimento, escolas especializadas ou outras alternativas que possam estimular suas potencialidades de maneira adequada. A identificação precoce das altas habilidades e o incentivo ao desenvolvimento de áreas de interesse específicas podem ajudar essas crianças a encontrar uma "tribo" de pares que compartilham de seus interesses, o que é fundamental para o bem-estar social e emocional.
Conclusão
Crianças com altas habilidades enfrentam desafios significativos que vão além do âmbito acadêmico. Estigmatização, bullying e dificuldades sociais são apenas alguns dos obstáculos que essas crianças precisam enfrentar. Embora possuam uma inteligência superior, muitas vezes essas crianças não têm as ferramentas necessárias para lidar com as demandas emocionais e sociais de sua idade. O apoio da família e o reconhecimento da sociedade sobre as necessidades especiais dessas crianças são fundamentais para o seu desenvolvimento saudável. A educação deve ser inclusiva e adaptativa, reconhecendo que as altas habilidades não são apenas uma vantagem intelectual, mas também um terreno fértil para desafios emocionais e sociais que exigem compreensão e cuidado.
Referências
Gagné, F. (2004). From Gifts to Talent: The Development and Education of Giftedness and Talent. Routledge.
Gardner, H. (1983). Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences. Basic Books.
Gross, M. U. M. (2004). Exceptionally Gifted Children. Routledge.
Renzulli, J. S. (2005). The Three-Ring Conception of Giftedness: A Developmental Model for Promoting Creative Productivity. In Conceptions of Giftedness (2nd ed.), Cambridge University Press.
Dweck, C. (2006). Mindset: The New Psychology of Success. Random House.
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