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Envelhecer: o convite da vulnerabilidade ao Novo , ao desapego e à vida


Envelhecer: O Convite da Vulnerabilidade ao Novo, ao Desapego e à Vida


Por Daniela Cracel



O envelhecimento, muitas vezes, é visto com uma aura de medo e negação. O corpo envelhece, as certezas se desvanecem, e o mundo ao nosso redor parece se transformar em um ritmo cada vez mais acelerado. No entanto, existe uma outra forma de olhar para essa fase da vida. Envelhecer, longe de ser sinônimo de decadência, pode ser uma oportunidade única de crescimento, de aceitação e, principalmente, de vulnerabilidade. Quando nos permitimos abrir os braços ao novo, ao desconhecido e ao imprevisível, damos espaço para que a vida, com todas as suas nuances, se apresente como ela é. A vulnerabilidade, muitas vezes vista como fraqueza, pode ser, na verdade, a chave para a plenitude no envelhecer.


A Vulnerabilidade como Chave do Envelhecimento


Brené Brown, em suas profundas investigações sobre a vulnerabilidade, aponta que "a vulnerabilidade não é ganhar ou perder; é ter a coragem de se mostrar e ser visto quando não temos controle sobre o que vai acontecer". No contexto do envelhecimento, essa coragem é ainda mais relevante. A vida, à medida que avançamos em idade, nos coloca diante de perdas inevitáveis: amigos que se vão, o corpo que não responde da mesma maneira, os sonhos que podem ter se transformado em saudade. Mas é exatamente nesse espaço de incerteza, de não controle, que a vulnerabilidade se torna uma porta aberta para a renovação.


John Bowlby, ao estudar a teoria do apego, afirmou que "os seres humanos são programados para buscar proximidade emocional com os outros". À medida que envelhecemos, o apego muda. De forma paradoxal, a perda de entes queridos pode nos levar a um novo tipo de apego: ao que é impessoal, ao efêmero, ao que está além do nosso controle. Quando nos permitimos soltar as amarras do apego rígido e aceitar o que nos é apresentado pela vida, encontramos uma liberdade serena.


É nesse desapego que reside a arte de envelhecer com dignidade. "Soltar" não significa abandonar, mas sim aceitar a transitoriedade de todas as coisas. O psicólogo Erik Erikson, em sua teoria do desenvolvimento psicossocial, descreve o último estágio da vida como o momento da "integridade vs. desespero". Envelhecer, para Erikson, é aceitar a vida como ela foi, com todos os seus altos e baixos. Essa aceitação é um processo de desapego. Desapegar da necessidade de controlar, de reverter o tempo, de manter tudo como era. O verdadeiro desapego é entender que o que importa é a vivência e não o que foi perdido.


Abrir-se para o Novo: A Oportunidade do Desapego


A palavra "desapegar" carrega consigo a ideia de liberar. Liberar-se das expectativas, das antigas definições sobre quem somos, das velhas identidades que criamos ao longo da vida. O envelhecimento oferece a chance de deixar fluir, de confiar no fluxo natural da existência. Thomas Moore, em O Cuidado da Alma, sugere que "a sabedoria é a capacidade de se abrir para o que a vida nos oferece, sem tentar controlar ou restringir suas manifestações". Quando desapegamos do antigo e nos permitimos fluir, somos convidados a viver com mais autenticidade, aceitando as mudanças não como perdas, mas como etapas necessárias de uma jornada.


No momento em que deixamos de tentar controlar tudo e passamos a confiar mais nas forças da vida, encontramos um novo espaço para o crescimento. O filósofo Carl Jung, em sua busca pela individuação, ensinou que o envelhecimento é uma fase de reconciliação com os aspectos mais profundos de nossa psique. Ao aceitar o que surge, sem medo de nos mostrarmos vulneráveis, começamos a perceber que a vida, em todas as suas formas e transições, é um processo contínuo de renovação. Envelhecer é, assim, um sinônimo de vida. A vida não para; ela apenas se transforma.


Deixar Fluir: O Movimento de Aceitar e Confiar


A ideia de "deixar fluir" é muitas vezes vista como um ato de passividade, mas, na realidade, trata-se de um ato profundo de confiança. Viktor Frankl, psiquiatra e fundador da logoterapia, destacou que "a vida nunca se torna insuportável, mas sempre há algo que podemos fazer para encontrar um novo significado". Envelhecer é aceitar que não controlamos tudo, que a vida se apresenta de formas que nem sempre são planejadas, mas que podem, sim, ser plenas de significado.


Quando confiamos na vida e aceitamos as mudanças com o coração aberto, estamos em sintonia com o que a experiência de envelhecer tem a oferecer. Não se trata de se entregar à passividade, mas de fluir com o que é dado, de não resistir ao que não podemos mudar, e sim, abraçar o que surge com confiança.


Conclusão: Envelhecer é Sinônimo de Vida


Envelhecer, ao contrário do que muitas vezes é pintado pela sociedade, não é um sinônimo de fim, mas de continuidade. Continuamos a aprender, a amar, a nos reinventar. A vulnerabilidade, o desapego, o confiar na vida, o deixar fluir—todas essas atitudes são o convite da própria existência para que, ao envelhecer, possamos viver plenamente.


Envelhecer, portanto, é um convite constante para abrir-se ao novo, para aceitar as mudanças, para confiar na vida, e para deixar ir o que não podemos mais carregar. Ao fazer isso, não estamos apenas vivendo mais, mas vivendo melhor. Mais inteiros, mais reais, mais conectados com o que realmente importa.


Bibliografia:


BROWN, Brené. A Coragem de Ser Imperfeito. Editora Lua de Papel, 2015.


BOWLBY, John. Apego e Perda. Editora Martins Fontes, 1990.


ERIKSON, Erik H. Identidade e Ciclos de Vida. Editora Zahar, 2000.


MOORE, Thomas. O Cuidado da Alma. Editora Vozes, 1993.


FRANKL, Viktor. Em Busca de Sentido. Editora Vozes, 2015.


JUNG, Carl G. O Homem e Seus Símbolos. Editora Cultrix, 1989.

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