O Desafio de Ajudar um Familiar com Transtorno Psicológico: Caminhos de Empatia e Compreensão
Por Daniela Cracel
Introdução
Ajudar um familiar que enfrenta um transtorno psicológico é uma jornada desafiadora e muitas vezes exaustiva. A dor de ver um ente querido sofrer e a impotência de não saber como agir podem gerar sentimentos de frustração e desespero. Porém, como nos ensina Viktor Frankl, “entre o estímulo e a resposta, existe um espaço, e nesse espaço reside o nosso poder de escolher nossa resposta” (Frankl, 2006). A chave para apoiar um familiar em sofrimento psicológico, segundo os especialistas, está na empatia, no apoio sem julgamento e, em certos momentos, na capacidade de respeitar os limites e a necessidade de distanciamento. Este artigo explora as abordagens de alguns dos mais renomados autores da psicologia e da psiquiatria, oferecendo não só perspectivas teóricas, mas também exemplos práticos que iluminam como devemos, e quando devemos, interagir com aqueles que enfrentam esses desafios.
A Natureza do Suporte: Empatia e Distanciamento Necessário
John Bowlby, pioneiro na teoria do apego, sugere que os vínculos familiares podem ser uma fonte poderosa de apoio psicológico, mas também podem se tornar um campo de tensão quando o familiar em sofrimento sente-se incompreendido ou pressionado (Bowlby, 2007). Muitas vezes, as famílias querem ajudar, mas acabam amplificando o sofrimento do ente querido ao insistirem em soluções rápidas ou em conversas que não são receptivas ao momento emocional da pessoa. O ideal, como enfatiza Irvin D. Yalom, é estabelecer uma relação terapêutica fundamentada na autenticidade e na aceitação incondicional (Yalom, 2002). Yalom explica que os sentimentos de vergonha e inadequação são comuns em quem sofre de transtornos psicológicos, e o apoio genuíno é essencial para que a pessoa não se sinta mais isolada.
Porém, nem sempre é fácil. Quando a pessoa não quer ajuda, como lidar com a rejeição constante? A metáfora de um jardineiro cuidando de uma planta delicada pode ser útil. Muitas vezes, a planta não floresce imediatamente, e o jardineiro precisa regá-la com paciência, permitindo que o tempo e as condições adequadas permitam seu crescimento. Da mesma forma, quando se tenta de tudo e a pessoa continua resistindo, como muitas famílias relatam, o afastamento temporário pode ser uma forma de dar espaço para que a pessoa se reorganize. David Sheehan, psiquiatra especializado em tratamento de transtornos, sugere que, ao invés de tentar forçar um tratamento, o distanciamento estratégico pode proporcionar um momento de reflexão para ambos os lados (Sheehan, 2012).
A poesia pode nos ajudar a entender essa dinâmica de forma mais sensível. Imagine a situação como uma flor no jardim da vida:
No jardim da vida, às vezes, a flor não quer abrir,
Mesmo regada com carinho, ela precisa do tempo para florir.
Com paciência, deixemos o vento suavizar seu caminho,
Pois cada ser tem seu tempo, e cada dor seu destino.
Essa metáfora da flor ilustra como, apesar do esforço e carinho, é necessário dar tempo e espaço para que a pessoa possa se abrir e se curar no seu próprio ritmo.
A Importância do Afastamento: "Ficar a Distância é um Ato de Amor"
Margarita Ocampo, psicoterapeuta, enfatiza que, quando se tenta de tudo para ajudar um familiar e este continua a recusar a ajuda, o distanciamento pode ser uma forma de evitar o desgaste emocional para ambas as partes (Ocampo, 2016). Esse afastamento não deve ser interpretado como abandono, mas como um reconhecimento da autonomia do outro. A metáfora de um barco à deriva ilustra bem esse conceito: se tentamos segurar o barco com força, ele pode se tornar cada vez mais difícil de controlar. Ao soltá-lo temporariamente, damos ao barco a chance de voltar ao seu curso de maneira natural, sem resistências. A mesma lógica se aplica aos relacionamentos familiares quando se trata de transtornos psicológicos.
É importante lembrar que o afastamento deve ser feito com cuidado, com o entendimento de que a pessoa está em uma fase onde a resistência ao cuidado pode ser, muitas vezes, um reflexo da dor emocional. Scott Peck, autor de O Caminho Menos Percorrido, explica que a verdadeira ajuda é muitas vezes a capacidade de dar espaço para a dor do outro sem tentar apressar a cura (Peck, 2006).
Quando Ajudar Não é o Suficiente: A Importância de Buscar Profissionais
A ajuda profissional, como argumenta Viktor Frankl, é fundamental quando a dor psicológica é intensa e crônica. A compreensão de que o sofrimento é parte da experiência humana, e que, em alguns momentos, o profissional tem mais ferramentas para ajudar, pode ser o primeiro passo para uma intervenção eficaz (Frankl, 2006). É comum que as famílias se sintam frustradas ao não verem melhorias imediatas, mas é importante lembrar que o processo terapêutico é gradual, como uma planta que cresce lentamente. O afastamento temporário pode, portanto, incluir a sugestão de que a pessoa busque apoio externo.
Conclusão
Ajudar um familiar com transtorno psicológico não é uma tarefa simples, e não existe uma única resposta para como lidar com a situação. De acordo com os especialistas como Yalom, Bowlby, Frankl e Ocampo, o apoio deve ser oferecido com empatia, respeito e paciência, reconhecendo os limites do outro e, em alguns casos, o distanciamento pode ser tão necessário quanto o envolvimento direto. As famílias devem entender que, muitas vezes, o melhor apoio que podem dar é o de respeitar o tempo e o processo do ente querido, garantindo que busquem o auxílio profissional adequado.
Como escreveu M. Scott Peck: "A vida é difícil, mas isso não é uma falha. Isso é o que torna o crescimento possível" (Peck, 2006). Assim, com empatia, compreensão e a disposição para aceitar a jornada do outro, podemos oferecer o apoio necessário para que ele reencontre o caminho da cura.
Bibliografia
BOWLBY, John. Apegos. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
FRANKL, Viktor E. Em Busca de Sentido. São Paulo: Editora Vozes, 2006.
Ocampo, Margarita. Cuando el Familiar Está Enfermo. Buenos Aires: Editorial Paidós, 2016.
PECK, M. Scott. O Caminho Menos Percorrido. São Paulo: Editora Rocco, 2006.
SHEEHAN, David. Tratamento de Transtornos Psicológicos. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2012.
YALOM, Irvin D. O Que Eu Disse a Você, Como Eu Ajudei. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002.
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