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O luto, as separações e o natal: Reflexões sobre a Dor e a esperança nas Festas de Fim de Ano .

O Luto, as Separações e o Natal: Reflexões sobre a Dor e a Esperança nas Festas de Fim de Ano



Por Daniela Cracel


Introdução


"O Natal é uma época de alegria, mas para muitos, é também uma época de dor. Não se trata apenas da saudade de um ente querido, mas de todo o peso emocional de uma perda que se intensifica nas datas festivas, onde as ausências parecem mais pronunciadas. O poeta Rainer Maria Rilke, em seus versos, sugere: 'A vida não é difícil para quem vive em espera, mas o coração que se perde no vazio da ausência, esse é o mais sofrido'. A separação, seja por morte, distanciamento ou qualquer outra razão, pode se tornar ainda mais dolorosa nas festas de fim de ano. O Natal, tradicionalmente visto como um tempo de reunião, confraternização e renovação de vínculos, pode, paradoxalmente, evidenciar a dor da falta. Contudo, é possível encontrar, no meio da tristeza, uma oportunidade de ressignificação, de cura e até mesmo de renovação de sentido. Este artigo busca explorar as dimensões do luto, das separações e dos ritos em momentos como o Natal, oferecendo uma nova perspectiva para lidar com a dor, transformando-a em esperança."


O Luto e as Separações no Contexto do Natal


O Natal é uma data que carrega consigo um significado profundo de união, celebração e renovação. No entanto, para muitos, especialmente aqueles que passam por processos de luto ou separações significativas, a festividade pode ser um lembrete doloroso da ausência. Elisabeth Kübler-Ross, psicóloga conhecida por seus estudos sobre o luto, afirmou que "O luto é o processo natural de lidar com a perda" (Kübler-Ross, 1969). Porém, nas festas de fim de ano, o luto pode ser amplificado pela presença das lembranças, pela falta de uma pessoa querida e pelos rituais que marcam a celebração.


Em momentos como o Natal, o peso da ausência se torna mais difícil de carregar. A pesquisa de Durkheim, sociólogo que estudou os ritos e sua função nas sociedades, sugere que os rituais de morte e separação desempenham um papel fundamental na coesão social. No entanto, quando a separação é vivida de forma individual, o impacto emocional pode ser devastador. Para muitas pessoas, as tradições natalinas se tornam um campo de batalha interno, onde o desejo de manter viva a memória dos entes queridos se choca com a dificuldade de lidar com a ausência.


Para aqueles que enfrentam o luto, a metáfora da "dúvida do coração", como descrita por Victor Frankl, torna-se pertinente: "A dor não desaparece, mas, ao encontrar um sentido para ela, o ser humano pode transformar o sofrimento em uma oportunidade para a renovação de seu ser" (Frankl, 1984). O Natal pode ser o momento para refletir sobre essa dor e, talvez, dar-lhe um novo significado. O luto não precisa ser encarado apenas como uma perda, mas como parte de um ciclo, que nos permite rever a importância das relações e dos momentos compartilhados.


O Papel dos Ritos no Luto e na Transformação


Em sua obra sobre os ritos sociais, Émile Durkheim destaca que os rituais têm um valor essencial no processo de enfrentamento das perdas. Para ele, o "rito de passagem", como o luto, ajuda o indivíduo a transitar entre os estados de sofrimento e aceitação, promovendo a reconstrução do senso de identidade e pertencimento social (Durkheim, 1912). No Natal, podemos entender os rituais como uma maneira de conectar-se com os outros, mas também como um espaço para a reconciliação com a ausência.


Cicely Saunders, pioneira no movimento de cuidados paliativos, dedicou sua vida a proporcionar uma morte digna e a ajudar as famílias a atravessar o processo de luto. Ela acredita que as despedidas significativas podem criar novas formas de ligação, mesmo após a morte. Para ela, a celebração do Natal, embora desafiadora para quem está em luto, pode ser uma oportunidade para criar "novos rituais", onde a memória do ente querido é honrada, mas onde a vida continua a ser celebrada.


Em tempos de luto, a criação de novos rituais de acolhimento e comemoração pode ser uma forma de ressignificar o Natal. Um exemplo disso pode ser encontrado em famílias que, ao perderem um ente querido, passam a celebrar o Natal de uma maneira mais introspectiva, talvez acendendo uma vela em memória da pessoa falecida, compartilhando histórias e refletindo sobre os bons momentos vividos. Essas pequenas adaptações podem, aos poucos, transformar o luto em uma celebração da vida, apesar da dor.


O Natal como Oportunidade de Esperança e Ressignificação


Embora o Natal possa, para muitos, ser uma época difícil devido às separações e perdas, ele também representa uma oportunidade para transformar a dor em algo significativo. Karla McLaren, especialista em inteligência emocional, destaca a importância de dar espaço às emoções, dizendo que "aceitar a dor é o primeiro passo para curá-la" (McLaren, 2010). A dor, quando enfrentada de forma honesta, pode abrir o caminho para o crescimento interior e para a ressignificação das celebrações.


John Bowlby, com sua teoria do apego, sugere que as separações, embora dolorosas, também têm o poder de fortalecer os vínculos que permanecem. "A dor da separação é uma oportunidade para reafirmar os laços que restam e transformar a saudade em uma nova forma de conexão", afirmou Bowlby (Bowlby, 1969). Portanto, o Natal pode ser visto como um momento para fortalecer a conexão com os que estão presentes, criando um espaço de acolhimento para os sentimentos de saudade e perda.


Exemplo de Ressignificação no Natal


Em uma história comovente, uma família, ao perder um ente querido durante o período de Natal, decidiu continuar celebrando a data, mas com uma nova tradição. Em vez de trocar presentes como faziam todos os anos, eles passaram a compartilhar cartas que expressavam o amor e a saudade que sentiam pela pessoa que partirá. Ao fazer isso, descobriram que o Natal não era apenas uma celebração da presença, mas uma oportunidade para honrar a memória, acolher a dor e encontrar maneiras de continuar vivendo o espírito de união, mesmo na ausência.


Conclusão


O Natal, em sua essência, é uma celebração de renovação, mas isso não significa que ele deva ser visto apenas como um momento de alegria. Para aqueles que enfrentam o luto ou a separação, a data pode ser desafiadora, mas também é uma oportunidade de transformação. Ao adotar uma perspectiva mais profunda e ressignificadora sobre o Natal, podemos encontrar maneiras de lidar com a dor de maneira mais construtiva e esperançosa. O luto, ao invés de ser encarado como algo definitivo, pode ser visto como uma fase transitória que nos oferece a chance de reviver os laços e redescobrir o significado da celebração. O luto, as separações e as perdas podem ser dolorosos, mas também podem abrir portas para uma nova forma de viver, para uma celebração renovada da vida, mesmo nas dificuldades.


Bibliografia


BOWLBY, John. Apego e Perda: Volume 1 – Apego. Editora Martins Fontes, 1969.


DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. Editora S. A. Companhia Editora Nacional, 1912.


FRANKL, Viktor E. Em Busca de Sentido. Editora Vozes, 1984.


KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer. Editora São Paulo, 1969.


MCLAREN, Karla. O Poder das Emoções. Editora Ágora, 2010.


SAUNDERS, Cicely. A Arte de Cuidar. Editora Nacional, 1994.




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