A busca pela perfeição e o perigo da fragmentação do self
Por Daniela Cracel

O filme A Substância (2024), de Coralie Fargeat, vai muito além do terror psicológico. Ele toca em questões profundas sobre identidade, autoimagem e os impactos emocionais da pressão social para corresponder a padrões inalcançáveis. Estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, o longa reflete sobre as consequências de uma sociedade obcecada pela juventude e pelo corpo perfeito.
Na história, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma celebridade em declínio que encontra em uma substância experimental a promessa de rejuvenescimento. O que parece solução se torna uma prisão: surge Sue (Margaret Qualley), uma versão mais jovem e "aperfeiçoada" de si mesma. A convivência entre as duas revela um conflito interno intenso: quem somos de verdade e quem a sociedade espera que sejamos?
Esse embate retrata um fenômeno comum na atualidade: a busca incessante pela autoaperfeiçoação pode nos afastar da própria essência. Mulheres são frequentemente cobradas a manter uma aparência impecável e uma energia jovial, como se o tempo fosse um inimigo. Esse ideal inatingível pode gerar sofrimento psíquico, levando à fragmentação da identidade e a um estado de desamparo emocional.
Do ponto de vista da saúde mental, A Substância nos faz refletir sobre como a cultura da perfeição impacta nossa autoestima e estabilidade emocional. O filme escancara como a autoimagem distorcida pode criar um abismo entre o que somos e o que desejamos ser. A tentativa de moldar-se a um padrão pode fazer com que a pessoa perca o contato com suas necessidades reais, prejudicando sua relação consigo mesma e com os outros.
A objetificação e a medicalização do corpo feminino reforçam essa insatisfação crônica. O envelhecimento, um processo natural, é tratado como um problema a ser corrigido, não como uma fase de transformação e crescimento. Esse ciclo de insatisfação constante alimenta não apenas a indústria da beleza, mas também um estado emocional frágil e vulnerável.
O filme nos deixa um alerta: até que ponto vale a pena tentar ser algo que não somos? E quais são as consequências de negar nossa própria história e identidade? Como psicóloga, vejo no método Borbolete-se um caminho para resgatar a autenticidade sem abrir mão da evolução pessoal. Afinal, empoderar-se não é se encaixar em um padrão externo, mas sim abraçar quem realmente somos, com todas as nossas nuances e imperfeições.
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