Trabalho e culpa : o preço invisível que muitas mulheres carregam !

Trabalho e Culpa: o preço invisível que muitas mulheres carregam

Por Daniela Cracel – Psicóloga e criadora do método Borbolete-se

Ela trabalha. Muito. Fora, dentro, por dentro. Mas, mesmo exausta, ainda sente que não fez o suficiente. Carrega a culpa como quem carrega uma mochila invisível – cheia de exigências, vozes internas, cobranças ancestrais.

A mulher que trabalha não apenas executa uma função. Ela performa uma expectativa. Precisa provar que é competente, mas não fria. Que é dedicada, mas não ausente como mãe. Que se cuida, mas não é fútil. Que dá conta, mas não domina. É uma corda bamba emocional entre o que sonha ser e o que esperam dela.

Mas por que a culpa aparece, mesmo quando tudo está sendo feito?

Porque por séculos fomos ensinadas que nosso valor está no cuidado com o outro. E que toda energia que não for voltada para o lar ou para os filhos… é egoísmo. Trabalhar, então, se tornou não só um direito – mas uma transgressão silenciosa. E cada vez que uma mulher escolhe seu caminho profissional, uma voz interna sussurra: “E quem vai cuidar do resto?”

As músicas que as mulheres ouvem enquanto trabalham falam, muitas vezes, de saudade dos filhos, de amor que ficou para depois, de dias em que não se reconhecem no espelho. Trazem o eco das dores de mães que perdem momentos da infância dos filhos, de mulheres que se sentem culpadas por realizar seus próprios sonhos. É como se o sucesso precisasse ser sempre pago com um pouco de abandono.

Mas a culpa não é nossa. Ela é herdada.

No Borbolete-se, abrimos espaço para ressignificar esse sentimento. Entender que culpa é o luto de uma idealização. É o corpo dizendo que algo precisa ser revisto, não punido. Que liberdade é aprender a existir sem se desculpar por ser inteira.

Trabalhar não deveria ser um fardo. Mas um voo.

E se for para carregar algo nas costas, que seja asas. Não culpa.

Daniela Cracel

Psicóloga e criadora do método Borbolete-se