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Adultizaçao precoce : a infância roubada nas redes sociais .

  • Foto do escritor: Daniela Cracel
    Daniela Cracel
  • 12 de ago.
  • 2 min de leitura

Adultização precoce: a infância roubada nas redes sociais


Por Daniela Cracel – Psicóloga e Neuropsicologia


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Era para ser só uma foto “fofa”, mas, em poucos segundos, o clique percorre milhares de telas. O que muitos pais e responsáveis não percebem é que, no ambiente digital, a linha entre o “fofo” e o “perigoso” é tênue. Cada curtida e compartilhamento pode colocar a criança em um contexto que ela não entende — e que pode ser interpretado de maneira distorcida por olhos mal-intencionados.


O fenômeno tem nome: adultização precoce. Ele acontece quando crianças e adolescentes são apresentados de forma sexualizada ou com comportamentos e vestimentas inadequados para sua idade. Nas redes sociais, isso vem acompanhado de um agravante: a exposição constante e pública.



O que diz a neuropsicologia


O cérebro infantil ainda está em formação, especialmente nas áreas ligadas à regulação emocional, tomada de decisão e percepção de si mesmo — como o córtex pré-frontal. Ao serem expostas a padrões adultos de comportamento e aparência, as crianças recebem estímulos para os quais não têm estrutura emocional nem cognitiva para processar.


Além disso, a exposição precoce pode alterar a forma como constroem sua identidade. A criança passa a entender que sua imagem é um produto a ser exibido e avaliado, e não uma parte íntima e protegida de quem ela é.


Quando o afeto vira risco


Muitos pais acreditam estar apenas mostrando momentos de carinho e orgulho. Porém, segundo dados da SaferNet, milhares de imagens de crianças publicadas por familiares acabam sendo copiadas e reutilizadas em contextos de exploração sexual infantil.


O amor e a admiração pela criança não justificam expor detalhes da sua rotina, localização, ou imagens que possam ser interpretadas de forma sexualizada.



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O ciclo invisível


A adultização precoce também afeta a percepção social da infância. Quanto mais normalizada a exposição, mais cedo a criança é vista — e tratada — como “pequeno adulto”. Isso abre espaço para a perda de limites, para o assédio e para a banalização da infância.


Do ponto de vista emocional, muitas dessas crianças carregam, na adolescência e vida adulta, transtornos de ansiedade, distorção de autoimagem e dificuldade para estabelecer limites em relações pessoais e profissionais.


Como proteger a infância nas redes


Repense o que você posta: pergunte-se se a foto ou vídeo poderia ser distorcido ou usado de forma mal-intencionada.


Evite conteúdo sensualizado: roupas, poses e expressões que remetem ao universo adulto devem ser evitadas.


Configure a privacidade: use perfis fechados e limite o público que pode visualizar as imagens.


Ensine sobre limites: desde cedo, explique à criança que ela pode dizer “não” a fotos, vídeos ou situações desconfortáveis.


Denuncie: qualquer suspeita de exploração ou abuso infantil pode ser reportada ao Disque 100 ou à SaferNet.




Conclusão


A infância não é um palco para curtidas. É um território sagrado de proteção, aprendizado e crescimento. Quando expomos crianças de forma inadequada, não apenas tiramos delas o direito de viver essa fase plenamente, mas também abrimos as portas para perigos que vão muito além das telas.


Proteger é mais do que cuidar do presente — é garantir que, no futuro, elas possam olhar para trás e se reconhecer com orgulho, e não com feridas.




 
 
 

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