Disponível ou indisponível no vínculo?
- Daniela Cracel
- 12 de ago.
- 2 min de leitura
Disponível ou Indisponível no Vínculo?

O que a neuropsicologia revela sobre atenção, afeto e presença – especialmente quando há uma criança envolvida**
Por Daniela Cracel
Vivemos em uma era em que o celular parece uma extensão do corpo. Em meio a notificações e rolagens infinitas, não percebemos que um gesto aparentemente simples — olhar para uma tela enquanto alguém fala — pode ter um peso emocional e neurológico significativo. E quando esse “alguém” é uma criança, o impacto se multiplica.
A presença que não é presença
A neuropsicologia explica que o vínculo humano é construído principalmente por meio da atenção conjunta — o ato de compartilhar o mesmo foco com outra pessoa. No cérebro, isso ativa regiões ligadas à empatia (córtex pré-frontal medial), à memória afetiva (hipocampo) e à regulação emocional (amígdala).
Quando alguém está fisicamente presente, mas mentalmente ausente — como no caso de mexer no celular durante uma conversa — essas redes não se ativam da mesma forma. É como tentar regar uma planta com o regador fechado: a água da conexão não chega.
O que acontece no cérebro da criança
Para a criança, o olhar do adulto funciona como espelho: é por meio dele que ela aprende a reconhecer emoções, a nomear sentimentos e a entender seu valor.
Quando esse olhar é interrompido por uma tela, o cérebro infantil recebe sinais de que sua comunicação não é prioridade. A longo prazo, isso pode interferir na autoestima, no desenvolvimento da linguagem e até na capacidade de manter relações saudáveis, pois a criança aprende que vínculos podem ser frágeis ou inconsistentes.
Informações que damos sem perceber.
Não responder a um olhar ou interromper uma escuta para checar o celular comunica mensagens invisíveis:
"O que está na tela é mais importante que você."
"Posso estar aqui, mas não estou com você."
"Sua fala não merece toda a minha atenção."
Essas micro mensagens não são neutras — o cérebro humano, especialmente o infantil, as registra e usa para formar a visão de mundo.
Quando isso se torna um padrão.
A neuropsicologia alerta que, se a indisponibilidade emocional se repete, a pessoa pode desenvolver um vínculo ansioso ou inseguro. Em adultos, esse padrão também é prejudicial: casais, amigos e familiares que não se sentem plenamente ouvidos tendem a se distanciar emocionalmente.
Como resgatar a presença
Estabeleça zonas sem tela: refeições, conversas importantes e momentos de acolhimento devem ser livres de distrações digitais.
Treine a escuta ativa: olhe nos olhos, faça pausas, reformule o que o outro disse para mostrar compreensão.
Envie sinais claros de prioridade: desligar a tela ou colocá-la de lado diz mais que mil palavras.
Esteja atento ao não verbal: gestos, postura e tom de voz também comunicam presença.
📌 Palavra-chave para lembrar:
A presença não é medida pelo corpo no mesmo ambiente, mas pela mente no mesmo instante.





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