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Autismo em adultos: características, desafios e o Papel da psicoterapia.

Autismo em Adultos: Características, Desafios e o Papel da Psicoterapia


Por Daniela Cracel



O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é comumente associado à infância, mas sua manifestação não desaparece com a maturidade. Para muitos, o diagnóstico ocorre na vida adulta, quando as dificuldades começam a afetar de maneira mais significativa a convivência social, o ambiente de trabalho e as relações interpessoais. Especialistas como Tony Attwood, Temple Grandin, Simon Baron-Cohen e outros têm contribuído significativamente para o entendimento das características e desafios do autismo em adultos, além de como a psicoterapia pode ser uma ferramenta crucial para a adaptação e o manejo das dificuldades diárias.


Características do Autismo em Adultos


O autismo se manifesta de maneira única em cada indivíduo, e, muitas vezes, as características podem ser mais sutis em adultos do que em crianças. Embora os sinais de autismo, como dificuldades na comunicação social e padrões de comportamento repetitivos, possam ser identificados desde a infância, muitos adultos não recebem o diagnóstico até mais tarde na vida. Isso pode ocorrer devido ao fato de que, ao longo dos anos, eles podem ter desenvolvido estratégias para lidar com suas dificuldades ou os sintomas podem ser menos evidentes.


1. Desafios na Comunicação Social:


Uma das principais características do autismo, tanto em crianças quanto em adultos, é a dificuldade de compreender e utilizar as regras não ditas da comunicação social. Os adultos com TEA podem ter dificuldade em entender ironias, sarcasmo, expressões faciais e outras formas de comunicação implícita. A habilidade de iniciar e manter conversas e interagir de forma apropriada em grupos sociais pode ser um desafio constante.


Tony Attwood (2007), um dos maiores especialistas no autismo, discute frequentemente como adultos com autismo podem ser mal interpretados em contextos sociais. Para Attwood, os adultos com autismo muitas vezes enfrentam uma sensação de "alienação social", na qual não conseguem se conectar com os outros de maneira intuitiva. Isso pode resultar em sentimentos de solidão, ansiedade social e dificuldades em desenvolver relacionamentos significativos.


2. Padrões de Comportamento Restritivos e Repetitivos:


Outro aspecto importante do TEA é a presença de comportamentos repetitivos ou interesses intensos e restritos. Em adultos, esses padrões podem se manifestar de várias formas, como uma fixação em temas específicos, rituais diários rígidos ou a necessidade de previsibilidade e rotina. Temple Grandin (2006), uma das figuras mais notáveis com autismo, escreveu extensivamente sobre como seus interesses intensos, especialmente pela criação de gado, ajudaram-na a se destacar em sua carreira. Contudo, ela também observa como tais interesses podem ser estigmatizados ou mal compreendidos na vida adulta, dificultando a aceitação social e profissional.


3. Desafios Sensorial e Perceptivos:


Muitas pessoas com autismo experimentam diferenças sensoriais significativas, sendo hipersensíveis ou hipossensíveis a estímulos como luzes, sons, cheiros e toques. Para os adultos com TEA, esses desafios sensoriais podem interferir significativamente na realização de tarefas cotidianas, como trabalhar em um ambiente movimentado ou fazer compras em um supermercado lotado. Simon Baron-Cohen (2008), um renomado pesquisador do autismo, aponta que essas diferenças sensoriais são uma das áreas mais comuns de desconforto e estresse em adultos autistas. Eles podem evitar situações sociais ou lugares com alta estimulação sensorial, como lojas ou festas, devido a esses desconfortos.


Desafios Psicológicos e Emocionais em Adultos com Autismo


Os adultos com autismo frequentemente enfrentam uma série de dificuldades emocionais e psicológicas. A falta de compreensão sobre o autismo pode gerar frustração e ansiedade. A ausência de diagnóstico precoce pode resultar em dificuldades em identificar e lidar com emoções, o que pode gerar transtornos secundários, como ansiedade, depressão ou transtornos obsessivo-compulsivos (TOC).


Dawn Prince-Hughes (2004), antropóloga e autora de livros sobre a experiência de ser autista, fala sobre a dificuldade em compreender e expressar emoções. Ela enfatiza como a falta de reconhecimento de seus sentimentos ao longo da vida causou um sentimento de desconexão e insegurança. Muitos adultos autistas podem sentir que estão "fora de sintonia" com os outros, o que pode gerar altos níveis de estresse e ansiedade.


O Papel da Psicoterapia no Apoio a Adultos com Autismo


A psicoterapia desempenha um papel fundamental na adaptação de adultos com autismo às exigências do cotidiano e no manejo de suas dificuldades emocionais e sociais. Embora o autismo seja uma condição permanente, a psicoterapia pode ajudar esses indivíduos a desenvolver habilidades de enfrentamento e estratégias para navegar melhor no mundo ao seu redor.


1. Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (TCC):


A TCC tem se mostrado eficaz para adultos com autismo, especialmente no tratamento de comorbidades como ansiedade e depressão. A abordagem permite que o indivíduo com TEA identifique padrões de pensamento negativos e distorcidos, ensinando-o a lidar com as emoções de maneira mais saudável. A TCC também pode ser útil para trabalhar habilidades sociais, ajudando o paciente a entender e melhorar suas interações sociais.


2. Terapias Focadas no Treinamento de Habilidades Sociais:


O treinamento de habilidades sociais é uma das abordagens mais comuns na psicoterapia de adultos com autismo. Os terapeutas podem ensinar estratégias específicas para iniciar e manter conversas, interpretar sinais não verbais e melhorar a compreensão emocional nas interações sociais. Catherine Lord (2001), psicóloga e especialista em diagnóstico do autismo, desenvolveu o "Autism Diagnostic Observation Schedule" (ADOS), que inclui módulos específicos para adultos. Ela enfatiza que a psicoterapia focada em habilidades sociais pode melhorar significativamente a qualidade de vida desses indivíduos, ajudando-os a lidar melhor com as demandas sociais.


3. Psicoterapia Psicoeducacional:


A psicoterapia psicoeducacional também tem um papel importante. Essa abordagem envolve educar os adultos autistas sobre a natureza do transtorno e as maneiras de manejar os sintomas. Ao fornecer informações sobre o autismo, o terapeuta pode ajudar o indivíduo a entender melhor suas próprias dificuldades, aumentar sua autoestima e reduzir a ansiedade relacionada ao desconhecimento.


4. Apoio Psicoterapêutico para Compreensão da Identidade:


Muitos adultos autistas lutam com a compreensão e aceitação de sua identidade. O autismo pode ser uma parte significativa de quem são, mas também pode gerar sentimentos de alienação ou inadequação. Profissionais como Martha Leary (2014), que trabalha com adultos autistas, utilizam a psicoterapia para ajudar esses indivíduos a integrar sua identidade autista de maneira positiva, fortalecendo seu senso de pertencimento e autocompreensão.


Considerações Finais


A psicoterapia é uma ferramenta poderosa para adultos com autismo, oferecendo um espaço seguro para explorar emoções, desenvolver habilidades sociais e aprender a lidar com as dificuldades cotidianas. Como especialistas como Tony Attwood, Temple Grandin, Simon Baron-Cohen e outros destacam, o autismo em adultos é uma experiência única, com desafios específicos que exigem abordagens terapêuticas personalizadas. O trabalho terapêutico, além de ser um caminho para o autoconhecimento, também é essencial para a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida dos adultos com autismo, promovendo sua integração plena na sociedade.



Bibliografia


1. Attwood, T. (2007). The Complete Guide to Asperger's Syndrome. Jessica Kingsley Publishers.


2. Grandin, T. (2006). Thinking in Pictures: My Life with Autism. Vintage.


3. Baron-Cohen, S. (2008). The Autism Spectrum: A Guide for Parents and Professionals. Jessica Kingsley Publishers.


4. Wing, L. (1996). The Autistic Spectrum: A Guide for Parents and Professionals. Constable.


5. Lord, C., & McGee, J. (2001). Educating Children with Autism. National Academy Press.


6. Prince-Hughes, D. (2004). Songs of the Gorilla Nation: My Journey Through Autism. Henry Holt and Co.


7. Leary, M. (2014). The Adult Autism Toolkit: A Practical Guide for Clinicians. Jessica Kingsley Publishers.


8. Happé, F. (1994). An Advanced Test of Theory of Mind: Understanding of Story Characters’ Thoughts and Feelings by Able Autistic, Mentally Handicapped, and Normal Children and Adults. Journal of Autism and Developmental Disorders, 24(2), 129-154.


9. Fitzgerald, M., & Corbett, J. (2004). Autism and Asperger Syndrome: A Guide for Parents and Professionals. Routledge.


10. Mundy, P., & Newell, L. (2007). Neurodevelopmental Perspectives on Autism and Asperger Syndrome. Current Directions in Psychological Science, 16(4), 169-174.


Artigos Acadêmicos e Revistas


1. Howlin, P. (2004). Autism and Asperger Syndrome: The Role of Psychotherapy in Supporting Adults. Journal of Autism and Developmental Disorders, 34(2), 149-160.

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